Las herederas, primeira obra do paraguaio Marcelo Martinessi, foi o grande vencedor ibero-americano na 68.ª edição do Festival de Cinema de Berlim ao arrecadar dois Ursos de Prata: o Urso de Prata-Prémio Alfred Bauer para filmes que abrem novas perspectivas na cinematografia mundial, e o Urso de Prata para a Melhor Interpretação Feminina para a atriz Ana Brun, uma das protagonistas do filme. Um sucesso que celebramos de forma especial também na Ibermedia, pois o filme recebeu apoios do Programa para o Desenvolvimento na Convocatória 2014 e para a Co-produção em 2015. Já Museo, do mexicano Alonso Ruizpalacios, ganhou o Urso de Prata de Melhor Argumento para o guionista Manuel Alcalá; Ex Pajé (ex-xamã), do brasileiro Luiz Bolognesi, obteve uma Menção Honrosa na secção Panorama Documental; e Retablo, do peruano Álvaro Delgado-Aparicio, uma Menção Especial do Júri na secção Generation 14Plus.
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Entre os prémios dos júris independentes da Berlinale, também foram distinguidos Tinta bruta, dos brasileiros Marcio Reolon e Filipe Matzembacher (Prémio Teddy para a melhor longa-metragem de ficção com protagonista LGBT e Prémio da Confederação Internacional de Cinema de Arte e Ensaio, CICAE); Bixa Travesty, dos também brasileiros Claudia Priscilla e Kiko Goifman (Teddy ao melhor documentário LGBT); Teatro de guerra, da argentina Lola Arias (Prémio do Júri Ecuménico que segue a Berlinale bem como o CICAE para filmes incluídos na secção Fórum de novos talentos); El silencio de los otros, da espanhola Almudena Carracedo e do estado-unidense Robert Bahar (Prémio da Paz e Prémio do Público da secção Panorama Documental); e La casa lobo, filme de animação dos chilenos Cristóbal León e Joaquín Cociña (Prémio Caligari também para filmes incluídos na secção Fórum).
Também a secção da Amnistia Internacional que tem por fim chamar a atenção do público e do mundo do cinema para questões de direitos humanos deu o prémio principal a Central Airport THF, do brasileiro Karim Aïnouz, pelo seu documentário sobre os refugiados que foram abrigados nos antigos hangares do emblemático aeroporto Tempelhof de Berlim. E Las herederas, além dos dois Ursos de Prata, obteve também o Prémio da Federação Internacional da Crítica (FIPRESCI) para os filmes da Secção Oficial e o Teddy do Público concedido pelos leitores da revista Mannschaft.
Como é notório, trata-se de um magnífico ano para o cinema ibero-americano no Festival de Berlim, presente em quase todas as secções e galardoado em várias delas.
Numa entrevista que lhe fizemos recentemente para este site, Marcelo Martinessi descrevia assim o seu filme Las herederas: “É a história de uma mulher de boa posição social que tinha herdado dinheiro suficiente para viver confortavelmente. Mas aos 60 anos apercebe-se de que esse dinheiro já não chega. Esta nova realidade altera o equilíbrio imaginário em que vivia e impulsiona-a a transformar um mundo que até então permanecera imóvel”.
E acrescentava: “Ao longo deste relato, a herança não tem que ver apenas com o dinheiro. Tem que ver com os valores, as formas, os limites e as restrições que uma mulher sente a obrigação de transmitir de geração em geração, como para perpetuar um sistema irracional. São essas heranças abstratas e ilógicas que algumas mulheres decidem – por vezes – quebrar. E isso parece-me muito atraente”.
Las herederas é uma co-produção do Paraguai, Brasil, Alemanha, Uruguai e França, um projeto sem dúvida de grande magnitude, embora para Martinessi o desafio seja continuar a ser um filme pequeno, coerente com o seu país e com a maneira como ele entende o seu trabalho. Para a sua realização, Martinessi recebeu apoios do Ibermedia para o Desenvolvimento na Convocatória 2014 e para a Co-produção em 2015.