As magníficas representações de Roxana Blanco e Carlos Vallarino em La demora acabam de ser reconhecidas com os prémios para a melhor atriz e o melhor ator na Mostra de Cinema Llatinoamericà de Catalunya. Tais prémios acrescentam-se a outros tantos obtidos pelo filme do mexicano nascido no Uruguai Rodrigo Plá na Berlinale e no LAFF da Holanda, e a seis nomeações para os Ariel do México.
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Carlos Vallarino é Agustín, um homem que está a envelhecer e que começou a esquecer-se das coisas – e, o que é pior, é consciente disso. Roxana Blanco é María, a filha dele, uma mãe solteira que trabalha de mais e dorme de menos para tomar conta de toda a família. Agustín precisa de ser internado num lar para idosos, pois María já não consegue tomar conta dele —mal pode com os filhos e com a própria vida—, mas na administração pública recusam-lhe o pedido. Esta é a simples premissa dramática sobre a qual Rodrigo Plá desenha uma portentosa narrativa das misérias quotidianas que resultam de modelos sociais como os que predominam na América Latina, mas sem cair no exagero de um melodrama artificioso e simples ao qual Hollywood e os Óscares nos habituaram. Plá, realizador do também multipremiado e muito lembrado La zona —essa fábula claustrofóbica sobre a histeria coletiva à qual pode conduzir a obsessão pela segurança dos cidadãos—, consegue com La demora outra filme memorável, sóbrio no desenvolvimento argumental e requintado na utilização da câmara. Com os prémios obtidos por Vallarino e Blanco na Mostra da Catalunha, confirma-se que o seu olhar privilegiado também funciona na escolha dos atores.