Três filmes que receberam o apoio do Programa Ibermedia foram selecionados para o 43.º Festival Internacional de Cinema de Roterdão, que este ano tem lugar de 22 de janeiro a 2 de fevereiro. El lugar del hijo (El militante), Hotel Nueva Isla e Pelo malo irão concorrer em diferentes secções do festival holandês.
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El lugar del hijo, também conhecido como El militante, do uruguaio Manuel Nieto, participa na secção Bright Future (Futuro Brilhante) dedicada aos primeiros ou segundos filmes de jovens realizadores. Neste caso trata-se do segundo filme do realizador uruguaio Manuel Nieto após La perrera (2005) e conta a história de Ariel (Felipe Dieste), um jovem universitário do interior do país que tem problemas para falar. Ariel milita no movimento estudantil de Montevideu que organiza protestos de rejeição à crise financeira e política que o país atravessou no início da década de 2000 (a ação decorre em 2002). Ao saber da morte do pai, o protagonista viaja até Salto, a sua cidade de origem, para assistir ao funeral e lá descobre que herdou um campo com dívidas e uma casa que deverá disputar com a mulher do pai. A tarefa que deve assumir para resgatar o património familiar tem uma analogia com o país endividado e em crise que a nova geração de uruguaios vai herdar. Questões como a educação, o ativismo político, a passagem da juventude à idade adulta e a tomada de decisões difíceis são centrais nesta co-produção uruguaio-argentina. O filme irá estrear comercialmente em março em Montevideu, depois de participar em festivais da Colômbia, México e Estados Unidos. Além do de Roterdão, é claro.
Hotel Nueva Isla é o primeiro filme da espanhola Irene Gutiérrez, correalizado com o cubano Javier Labrador, e também participa na secção Bright Future do Festival de Cinema de Roterdão. É um filme documental que narra a história do Hotel Nueva Isla de Havana, que no início do século XX foi um íman para os turistas de luxo que chegavam principalmente dos Estados Unidos e nos últimos anos se tornou num edifício ruinoso usado como refúgio pelos mais pobres da cidade. “O nosso método de trabalho partiu de combinar um olhar documental com uma técnica ficcional. Deste modo, o argumento era escrito a partir da própria marcha lenta dos acontecimentos”, disse Irene Gutiérrez sobre a sua primeira obra. No hotel vive Jorge, um funcionário estatal reformado e abandonado, com os dois vizinhos: Waldo e La Flaca. Nos 70 minutos de duração do filme, o espetador observa a vida deste idoso cuja saúde se quebra tal como as estruturas do prédio. “O objetivo era criar um filme íntimo, construído sob a rotina diária de permanecer, observar, escrever e filmar a sua vida no hotel cada dia”, explica a realizadora. Viver no Nueva Isla representa um perigo permanente para os seus ocupantes. Apesar disso, Jorge recusa-se a ir embora e procura um tesouro nas deterioradas instalações e quartos do hotel. A nostalgia, a pobreza e a perseverança são questões recorrentes nesta co-produção cubano-espanhola.
Pelo malo, o terceiro filme da cineasta e artista plástica venezuelana Mariana Rondón, chega ao festival holandês para participar na secção Spectrum depois de obter a Concha de Ouro para o Melhor Filme no Festival de Cinema de San Sebastián 2013 e o Alexandre de Bronze no 54.º Festival de Cinema de Tessalónica, na Grécia, entre outros reconhecimentos. O terceiro trabalho de Mariana Rondón conta a história de um menino de um bairro pobre de Caracas que tem o cabelo encaracolado, “cabelo mau” segundo ele, e quer alisá-lo para aparecer na fotografia da escola. Este desejo não é, de modo algum, partilhado pela mãe, que acaba de perder o companheiro e também o emprego, e que começa a duvidar da sexualidade do seu filho e a temer a rejeição da sociedade em que vivem. Trata-se de uma co-produção entre a Venezuela, Peru, Argentina e Alemanha, e o seu enredo aborda também a questão do racismo na América Latina.