A memória que me contam, décimo filme da argumentista e realizadora brasileira Lúcia Murat, é apresentado esta semana no Festival de Cinema de Montreal depois de ter obtido o prémio da federação internacional de críticos (Fipresci) no Festival de Moscovo. Do Canadá irá seguir um percurso de sucesso pelas salas da Turquia, Inglaterra, Suécia e Estados Unidos.
[:]
Desde Que bom te ver viva, aquele clássico de Lúcia Murat estreado em 1989, a sua cinematografia debruçou-se várias vezes sobre um mesmo tema: a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985, que não só marcou a história contemporânea do seu país como também a sua própria história pessoal, uma vez que ela foi presa e torturada por esse regime. A memória que me contam, o seu décimo filme, aborda uma inovadora aproximação daqueles anos de chumbo. Um grupo de amigos que fizeram parte da resistência à ditadura reencontram-se depois de vários anos no hospital onde a ex-guerrilheira Ana (Simone Spoladore) está internada. A melhor amiga de Ana é Irene (Irene Ravache), uma realizadora de cinema que está a gravar um filme sobre os anos sessenta no Brasil, e está também Ricardo (o famoso Otávio Augusto), que se tornou o mais conservador de todos e tem um filho homossexual. Postas assim as coisas, o filme vai-se desenrolando como um conflito entre um passado comum e os diferentes rumos que tomou a vida de cada um dos amigos. Um drama irónico que passa revista a certas utopias esquecidas e à construção da sexualidade. Um balanço da geração rebelde dos sessenta. Ou, como a própria Murat o descreveu numa entrevista, “A memória que me contam é um filme catártico, contemporâneo, no qual a ditadura entra como passado. Inspirado na minha amiga Vera Sílvia Magalhães, que foi torturada e ficou com muitas sequelas. Ela teve vários surtos, e a tortura voltava neles. Quando ela era internada no hospital por esse motivo sempre tinha um grupo de amigos em torno dela, a ideia do filme partiu daí, mas eu só comecei a escrever o filme depois da morte dela, em dezembro de 2007″.
No dia 28 de maio deste ano, a cineasta Lúcia Murat contou diante da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro as torturas a que foi submetida durante a ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Neste link pode ler o seu comovente relato publicado na secção As Nossas Crónicas, imprescindível para compreender –e denunciar– aquilo que em tempos aconteceu nos nossos países.
Galeria de fotografias
Trailer
[:]